O que é ser o último de sua espécie? Que senso de impotência e de finitude se revela diante da iminente extinção? Há poesia no fim? O que nos toca enquanto espécie humana em vias de autoextermínio quando nos deparamos com os últimos rinocerontes-brancos-do-norte vivos? Diante de uma mãe e uma filha, as últimas desses mamíferos de corpo robusto, grande chifre e medidas imensas, vulneráveis à impossibilidade de perpetuação da espécie, um repórter nova-iorquino registra os dias antes do desaparecimento delas.

Eis o mote para a derradeira dança criada por Gaston Core e apresentada por Oulouy, artista da Costa do Marfim, radicado em Barcelona, em The Very Last Northern White Rhino.
Sozinho no palco escuro, em um início silencioso e quase imóvel, o bailarino traz para o seu corpo os afetos de um ser confrontado a uma sina trágica – não somente sua: a de todos que consigo tenham um dia se aparentado.

Quando já não há mais utilidade à qual se agarrar; nem crença no progresso, na evolução ou na prosperidade, frente à infertilidade que a devastação ambiental determina, o que se mostra é a dimensão mais frágil da vida. Na solidão radical do ser diante do destino inexorável, a poesia do movimento de um corpo vivo apresenta-se como um sentido possível.