A despeito do que o título pode fazer supor, Pagliacci é uma ópera trágica, escrita em dois atos pelo compositor napolitano Ruggero Leoncavallo (1858-1919). Entre a sua estreia, em 1892, na cidade de Milão, e a recente montagem com direção artística do paulista Paulo Abrão Esper e direção cênica do milanês Davide Garattini Raimondi, mais de 125 anos se passaram sem que a questão do feminicídio perdesse relevância.

Há palhaços em cena, por certo, mas já no prólogo um ator dirige-se ao público para alertá-lo de que o que está por vir não é mais do que a comicidade clownesca: um fingimento sobre as agruras da vida. Conhecemos então uma trupe circense que se apresenta em uma praça de uma aldeia, na região da Calábria, onde uma relação extraconjugal desencadeia a quebra do pacto ficcional, culminando em atos de violência irreparáveis.

O humor caminha para o horror nessa obra musical encenada pela Cia Ópera São Paulo, com solistas premiados no Concurso Brasileiro de Canto Maria Callas. Quando a comédia acaba, quando o amor acaba, quando a ficção acaba, o que resta?