Quem serão os Severinos do Brasil nesta década? Qual a parte que lhes cabe neste país ainda latifundiário? A concretude da poesia do escritor recifense João Cabral de Melo Neto (1920-1999) é matéria de estudo para o grupo Magiluth investigar cenicamente quais reverberações seus versos mais conhecidos encontram na atualidade. Em uma peça-palestra, operando dispositivos sonoros e audiovisuais, sob a direção geral de Luiz Fernando Marques e a direção musical de Rodrigo Mercadante, os atores amplificam a crítica social e a dura poesia de seu conterrâneo, fazendo ressoar a gravidade das condições de vidas severinas em um contexto de crescente crise climática, econômica, política e ética.

Escavar o poema e a cena, em permanente reconstrução, é o modo de o grupo compartilhar com o público suas inquietações diante das urgências contemporâneas, que, se ainda perpetuam a miséria cantada pelo poeta, excedem em muito a geografia nordestina, num momento em que os movimentos migratórios atestam a precariedade da vida em territórios diversos; as guerras apresentam-se como ameaças internacionais; e a fome espreita dentro das fronteiras nacionais. “Mas isso ainda diz pouco”.

Com a agilidade de pensamento transposta em linguagem, e uma profusão de questionamentos que se concretizam em uma forma dramatúrgica instável e vibrante, o Magiluth faz do teatro seu espaço de insurgência. E traz para uma realidade muito próxima, concreta e contável a tragédia de nosso modo de produção, consumo e trabalho, implicando o espectador na cadeia de relações que sustentam as estruturas de poder que determinam como as terras serão divididas.

Data: 25/07 e 26/07 | Horário: 21h | Local: Teatro Municipal Paulo Moura | Ingressos: R$ 20 (inteira); R$ 10 (meia-entrada) | Duração: 70 minutos