A quem define que o teatro é o ator; a todos que traduzem nosso ofício como alguém representando algo para outro alguém; a todos que defendem a presença do corpo como régua de critério do que é ou não legítimo em cena – Work.TXT está aí para estremecer sua espinha.

Caracterizada pela ausência de atores e atrizes, esta peça apresenta textos projetados no palco cuja leitura e execução são de responsabilidade do público. A ação cênica é não só compartilhada, mas inteiramente atribuída a quem em outras circunstâncias poderia ser considerado só um “espectador”.

Há instruções diretas e objetivas: dois voluntários sobem ao palco e constroem uma cidade com blocos amarelos. Há cenas de diálogos: impressas por uma impressora no palco e faladas em microfones; ou recebidas através de fones de ouvido, causando o efeito de uma conversa.

Essa vivência proporciona modos fora do esperado de refletir sobre os efeitos da gig economy, expressão inglesa que se refere à uberização do trabalho (quando não há regulamentação do vínculo empregatício entre empresa e trabalhador). A reconfiguração das relações de trabalho e desemprego é um dos assuntos mais urgentes da contemporaneidade, e em Work.TXT é não só tema, mas ousadia de inovação no cerne do fazer teatral.