A inventividade das formas de protesto e deboche do povo brasileiro são matéria de criação da peça O bode quer, de Evan Teixeira, que desata nós das relações humanas em praça pública ao encarnar o Bode Ioiô.

O ator e diretor evoca a memória dessa figura lendária do século XX com adereços alegóricos, performances e canções acompanhadas pela banda e pelos cachorros da rua. A ousadia desse espetáculo é de profunda contundência, propondo-se a transitar entre as pessoas, pedindo a elas pipoca, cigarro, e, principalmente, cachaça, assim como fazia o Bode Ioiô há cem anos nas ruas de Fortaleza.

As peripécias marcantes protagonizadas por esse ícone cearense estabelecem jogos de bom humor, ganhando aos poucos a confiança de pedestres, reunindo a coletividade, levantando sorrisos e dançando junto nas calçadas. O episódio da eleição do Bode à câmara de vereadores, com expressiva votação (foi quem recebeu mais votos) em 1922, representa muito da construção de nossa sociedade, que tem como gene de sua história a resistência e o manifesto popular diante do descaso de políticos.

Os patrimônios imateriais de nossa cultura precisam ser exaltados para fazer frente ao projeto de apagamento que tanto estrago causou no imaginário e na mentalidade nacionais. É isso que o bode faz, é isso que queremos.