Este espetáculo é uma escolha de textos (crônicas, poesias, prosas) sobre o ser humano e seu início, seu amor, sua saudade e seu fim, a breve canção humana neste mundo de Deus, tudo isso do ponto de vista brasileiro. É assim que a Cia. Apocalíptica anuncia sua encenação da dramaturgia de Millôr Fernandes, uma “comédia dramática irresponsável” escrita no final da década de 70.

Com tiradas como “Deus criou o planeta, o que fazia antes da criação do mundo ninguém sabe”, “A Igreja acaba de publicar uma lista com 128 pecados, estávamos perdendo mais de 100 por falta de conhecimento”, ou “Dizem que o dinheiro fala, mas bom mesmo é o dólar que fala várias línguas” temos uma amostra do humor cáustico, que atiça as instituições mais poderosas de nossa sociedade com leveza e acidez próprias do dramaturgo.

Na interpretação dos dois atores e da atriz desta montagem, as cenas aparentemente desconexas, numeradas desordenadamente, com títulos do tipo “cena 45º”, “cena 2001 uma odisseia no espaço 42 anos depois”, “cena 1,99”, nos conduzem a meditações sobre a paixão, os ciúmes, o medo, a fé, o nascimento e a morte. A saga da humanidade é reconstruída desde Adão e Eva até a criação da Bomba H, quando uma guerra destrói tudo no mundo, não restando nada além de um homem, uma mulher e uma flor.