Quando assistimos a um espetáculo, não sabemos quais os perrengues por trás das cortinas: a labuta das trabalhadoras da cultura é árdua para todas as profissionais que não tombam diante de privações e desaforos.

Some-se ao cenário de desmoralização da cultura os marcadores identitários, e teremos ainda mais provações. A peça E o palhaço, o que é? tensiona e poetiza algumas delas com base na tradição circense brasileira, sem precisar verbalizar uma palavra sequer.

No palco, vemos a rotina de um Palhaço após se apresentar no picadeiro do circo, dividindo-se entre tarefas domésticas e cuidados com um bebê, que chora e precisa de atenção. Aos poucos, conhecemos mais a intérprete que veste o nariz vermelho, sua obstinação e compromisso com o ofício.

No processo de criação, Gisel Lançoni, atriz com 33 anos de carreira, se inspirou em Maria Eliza Alves dos Reis, primeira mulher palhaça do Brasil, que se apresentava com um palhaço homem, Xamego, e era a grande atração do Circo Guarany na década de 40. 

A cena dela vestida de Palhaço e amamentando a filha inspirou uma série de debates sobre mulheres pretas no humor; relação da maternidade com o palco; raízes africanas do circo; e o protagonismo negro na palhaçaria, com referências como Benjamin de Oliveira, primeiro palhaço negro do país.