Imergindo no universo mitológico grego e em meditações filosóficas, Rui Paixão traz a personagem Albano Beirão para questionar tanto seu lugar próprio enquanto palhaço, quanto o do público, que também pode ser palhaço – por que não?

O intérprete de Albano foi o primeiro artista português a conseguir, aos vinte anos, um papel principal numa produção do Cirque du Soleil, e por isso é motivo de orgulho para seu povo. Tendo circulado por outros países do mundo, agora chega a vez de apresentar seu solo e sua pesquisa em teatro físico à audiência brasileira.

Mas não que ele esteja sozinho em cena: noção (e medo) do ridículo todos temos, mas talvez seja possível arranjar motivos para rir do desconforto. Atribuindo adereços aos espectadores, o ator orienta seus passos e os convence a seguir seus gestos de modo a narrar o mito de Perseu e Medusa.A palhaçaria desvela o âmago de nossa alma, e talvez por isso mesmo tenha se enrijecido tanto a compreensão desse ofício em nossa época. Neste espetáculo, a Companhia Holy Clowns propõe o despir-se da máscara ao invés de vesti-la. Ao confrontar e adulterar imagens estereotipadas de palhaços, Albano revela os fundos falsos desses personagens erráticos, vagando em cada canto onde houver teatro. Eles, que também somos nós.