O Poço da Mulher-Falcão é um espetáculo singular na cena de teatro-dança brasileira por sua filiação à tradição japonesa com o butô, campo de pesquisa da coreógrafa Emilie Sugai, e o teatro nô, pesquisado por Toshi Tanaka, que faz participação especial. Essa ancestralidade nipônica conjuga-se à estética simbolista de tradição europeia, a partir de uma peça do poeta irlandês W. B. Yeats (1865-1939).

O resultado é uma arte interessada nas questões metafísicas e espirituais, como a aspiração humana à imortalidade e as reconexões entre corpo e alma. Para isso, o palco veste-se de penumbra, num trabalho de criação de atmosferas e simbologias que agucem a percepção, as sugestões e as evocações de mundos para além do visível.

A mitologia celta também inspirou o autor na concepção de uma narrativa sobre um velho e um jovem determinados a beber a água da sabedoria interior, protegida por uma guardiã que dança como uma ave de rapina. Emilie Sugai e Fábio Mazzoni sorveram dessas fontes para criar um espetáculo peculiar, que se faz ponte abstrata ao enigma e ao inacessível.