O Teatro Público faz um trabalho de reencantamento da cidade, visitando vizinhanças com o espetáculo itinerante Naquele Bairro Encantado. Circula pelas ruas, adentra as casas, conversa com os habitantes e modifica as paisagens humanas com um grupo de senhoras e senhores mascarados, mensageiros de uma nostalgia musicada.

Na pesquisa do diretor Rogério Lopes e da dramaturga Larissa Alberti, a convivialidade toma a forma de uma serenata constituída de canções populares de meados do século XX, abrindo vias para que a arte perpasse o cotidiano de uma comunidade e encontre cidadãos fora do enquadramento institucional do teatro.

Essa estética da habitação faz-se a partir das práticas situacionistas de deriva urbana, mapeando territórios; reconhecendo as relações entre ambiente, arquitetura, memórias e moradores; intervindo no espaço e demorando-se até surgir alguma cumplicidade, capaz de provocar deslocamentos sensíveis nos envolvidos.

Da residência artística no local escolhido à abertura pública à caminhada com espectadores, o grupo perfaz um trajeto de experimentação da reabsorção da arte na vida, que resiste ao tempo do aceleramento, da juventude e do progresso, valorizando a persistência dos laços sociais.