A partir de um poema de Ovídio, Les Héroïdes faz um exercício de reimaginação que atravessa tempos e culturas. O que se transforma nas mulheres mitológicas? Penélope, Ariadne, Medeia, Hipsípile, Dejanira, Helena e Dido escrevem cartas a seus amantes, reinventando histórias que sobreviveram por milênios, agora proferidas em vozes que se recusam a perpetuar estruturas patriarcais.

Na obra do poeta romano, as cartas delas sobrepõem variações sobre o tema da ausência masculina, em tonalidades distintas de saudade, sedução, abandono, vingança, entre outros temas correlatos. No espetáculo criado coletivamente pela Cie. Bruta Flor, com direção e dramaturgia da brasileira Flávia Lorenzi, em parceria com o diretor musical Baptiste Lopez, seus cantos são perpassados pelo pensamento de escritoras contemporâneas como Hélène Cixous, Ana Maria Martins Marques e Niki de Saint-Phalle.

Seis atrizes musicistas dão corpo e coralidade às missivas. A música, a coreografia e a visualidade reposicionam as palavras, vestindo de signos da atualidade uma encenação que busca tecer uma poética contemporânea de protagonismo das mulheres. Elas não estão sozinhas com seus papeis, embora cada uma diga de sua história, as outras as testemunham, contrapõem, contracenam, adensam a cena. O que nos dizem hoje essas mulheres sobre o amor por um homem?