Dois trabalhadores das ruas, dois artistas, dois palhaços, também equilibristas por necessidade. Sobem e descem uma escada trajados como eletricistas enquanto entretêm a plateia com algum humor físico, ditos cômicos e comezinhos, em um jogo de interação com um tanto de lucidez sobre a precariedade econômica do trabalhador da cultura no país.

Em Gran Finale, a tradição da comédia popular de rua e da palhaçaria se mantém,  numa comunicação muito direta com público de crianças e adultos. Ao mesmo tempo, os integrantes da companhia As 10 Graças da Palhaçaria vão armando uma situação trágica, que confere o teor de crítica social (e alguma morbidez) ao espetáculo do enforcamento do artista em praça pública.

Com uma dramaturgia concisa, estruturada de maneira lúdica como um jogo da forca, os artistas de Fortaleza não recuam diante do desafio de sustentar uma arte de rua que compreenda o tragicômico da vida e desvele com sagacidade e, às vezes, até alguma sutileza, o quinhão de crueldade de cada um.

No deslizamento entre graça e desgraça, que batiza a companhia, encontramos um posicionamento ético e político para a arte na sociedade.