No quintal de Candeia, quatro senhoras acolhem o público com os saberes tradicionais da cultura popular brasileira. Uma receita de chá. Um escalda-pés. Um café. Uma reza. Esses pequenos ritos cotidianos tão característicos dos interiores do país revelam, nos detalhes, o sincretismo cultural e religioso que o constitui.

Sob a direção de Titina Medeiros, o Grupo Estação de Teatro arma uma situação de encontro convidativa à transmissão oral da tradição, na qual se reafirmam alguns lugares comuns da identidade nordestina e da religiosidade dominante, com personagens que também reiteram um certo tipo de figura feminina matricial, hospitaleira e curandeira.

A proximidade entre artistas e espectadores serve a uma teatralidade da intimidade, amparada no investimento na dimensão do convívio e da sensorialidade. Nesse chão comum, as personagens falam entre si e com o público como quem partilha um momento da vida, quase sem contornos dramáticos mais definidos.

Essa aparência de naturalidade põe a mesa para que alguma subversão possa ser servida, desarmando a lógica mais conservadora. É quando ouvimos a memória de uma personagem insubmissa, cujas experiências dizem da liberdade e de seu cerceamento. Uma senhora que, insuspeitadamente, desvela como se pode acolher, no seio da tradição, o seu avesso.